segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo, Martha Medeiros


Foi-se embora mais um ano, 12 meses, mais de 300 dias em que pagamos contas e procuramos lugar pra estacionar. 
Um ano a mais de experiências vividas, um ano a menos de juventude. Um ano a mais de filmes de que gostamos, trabalhos que nos frustraram e pessoas com quem convivemos menos do que gostaríamos. 
Tempo consumido em chopes, estradas, telefonemas, suor, tevê e cama. Você envelheceu ou cresceu este ano? 
Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos criando os filhos da mesma forma como fomos criados, sem levar em conta algumas novas necessidades, outras formas de ser feliz. 
Envelhecemos passando creme anti-rugas no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia, envelhecemos nos queixando da tarifa do condomínio e achando que todo mundo é estúpido, menos nós. 
Envelhecemos porque envelhecer é mais fácil do que crescer.Crescer requer esforço mental. Obriga a tomadas de consciência. Exige mudanças. 
Crescer é a anti-repetição de ideias, é a predisposição para o deslumbramento, é assumir as responsabilidades por todos os nossos atos, os bem pensados e os insanos. 
Crescer dá uma fisgada diária no peito, embrulha o estômago, tem efeitos colaterais. Machuca. Envelhecer não machuca. 
Envelhecer é manso, sereno. 
Envelhecer é uma apatia um não-desempenho, um deixa pra lá, vamos ver o que acontece. O que acontece é que você fica mais velho e se considerando tão sábio quanto era anos atrás, anos que se passaram iguais, sabedoria que não se renovou. 
Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. 
É uma vitória secreta, sem testemunhas. 
O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor. 

Feliz Ano Novo!




Martha Medeiros

Martha Medeiros (1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação  em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia.

De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e outra — às quartas-feiras — no Segundo Caderno. Escreve, também, uma coluna semanal para o sítio Almas Gêmeas e  colabora com a revista Época.

Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata (1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997) e Santiago do Chile (1996).  Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na 9a. edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. A autora é casada e tem duas filhas.


in "Montanha Russa", L&PM,  pág. 184.

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