sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Passa uma borboleta, Alberto Caeiro


Flor Borboleta (Clerodendrum ugandense)


Passa uma borboleta por diante de mim 
E pela primeira vez no Universo eu reparo 
Que as borboletas não têm cor nem movimento, 
Assim como as flores não têm perfume nem cor. 
A cor é que tem cor nas asas da borboleta, 
No movimento da borboleta o movimento é que se move, 
O perfume é que tem perfume no perfume da flor. 
A borboleta é apenas borboleta 
E a flor é apenas flor.

Alberto Caeiro 
07-05-1914

in "O Guardador De Rebanhos" poema XL.

Alberto Caeiro da Silva (Lisboa, 16 de Abril de 1889 ou Agosto de 1887 – Junho de 1915) foi um personagem ficcional (heterônimo) criada por Fernando Pessoa, sendo considerado o Mestre Ingenuo dos restantes heterônimos (Álvaro de Campos e Ricardo Reis) e do seu próprio autor, apesar de apenas ter feito a instrução primária.
Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos"). Proclama-se assim um anti-metafísico. Afirma que, ao pensar, entramos num mundo complexo e problemático onde tudo é incerto e obscuro. À superfície é fácil reconhecê-lo pela sua objetividade visual, que faz lembrar Cesário Verde, citado muitas vezes nos poemas de Caeiro por seu interesse pela natureza, pelo verso livre e pela linguagem simples e familiar. Apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos" que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade. É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade.

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